Pré-COP da Rede de Fundos Comunitários da Amazônia é encerrada com leitura de declaração da Rede para a COP30

Declaração política cobra financiamento climático direto, proteção territorial e reconhecimento dos povos amazônicos como protagonistas no enfrentamento da crise climática

No dia 29 de agosto, a Rede de Fundos Comunitários da Amazônia encerrou Brasília, o encontro da Pré-COP da Rede de Fundos Comunitários da Amazônia, reunindo lideranças de diferentes povos e territórios da região amazônica. O evento foi marcado por discursos potentes que reforçaram a importância da união entre os fundos comunitários e a construção coletiva de soluções para os desafios ambientais e sociais da Amazônia.

Cada fundo membro da Rede apresentou sua trajetória, destacando a relevância de fortalecer a gestão comunitária de recursos e a articulação em rede, o 

  • Fundo Babaçu: Edinalva Silva
  • Fundo Dema: Mariane Tupinambá
  • Fundo Luzia Dorothy do Espírito Santo: Marta Suely
  • Fundo Indígena do Rio Negro: José Baltazar
  • Fundo Indígena Rutî: Paulo Ricardo
  • Fundo Indígena Timbira: Evalcy Apinajé
  • Podáali – Fundo Indígena da Amazônia Brasileira: Inara Sateré Mawé
  • Puxirum – Fundo dos Extrativistas da Amazônia Brasileira: Edilson Figueira
  • Fundo Quilombola Mizzi Dudu: Valéria Carneiro

O momento de maior simbolismo ocorreu com a leitura da Declaração Política da Rede de Fundos Comunitários da Amazônia, realizada por Rose Apurinã, representante do Fundo Indígena Podáali. A declaração traz o posicionamento da Rede de Fundos Comunitários da Amazônia, composta por nove fundos geridos diretamente por povos indígenas, quilombolas, extrativistas e comunidades tradicionais. O documento alerta para a urgência da crise climática e para o risco do ponto de não retorno da Amazônia, reafirmando que os povos da região são guardiões históricos da floresta e fundamentais para o equilíbrio climático global.

A Rede exige participação real e não simbólica nas negociações, defendendo que o financiamento climático seja direto, flexível e autônomo, reconhecendo os fundos comunitários como mecanismos legítimos de gestão. Entre as principais propostas, destacam-se:

  1. Financiamento direto: destinação mínima de 1 bilhão de dólares anuais aos fundos comunitários, com acesso facilitado aos mecanismos multilaterais e respeito às formas próprias de governança.
  2. Proteção territorial: demarcação de terras indígenas, quilombolas e extrativistas, com metas vinculantes nas NDCs do Brasil.
  3. Reconhecimento de saberes tradicionais: valorização das ciências, tecnologias e práticas dos povos amazônicos como estratégias climáticas legítimas.
  4. Mecanismos financeiros adequados: adaptação das regras internacionais às realidades comunitárias, com participação direta dos fundos na governança global.
  5. Proteção da vida: defesa de lideranças, comunidades e povos em isolamento como ação climática estratégica.
  6. Centralidade de mulheres e juventudes: protagonismo feminino e participação efetiva da juventude nas decisões e no financiamento.
  7. Coerência governamental: revogação de medidas que ameaçam os territórios (como o Marco Temporal) e implementação de políticas nacionais voltadas à proteção socioambiental.

A declaração conclui afirmando que enfrentar a crise climática exige reconhecer os povos da Amazônia como protagonistas:

“Se a Amazônia cai, o planeta colapsa. A resposta somos nós.”

Acesse a carta na íntegra Declaração (Português) e Declaração (Inglês)

A Pré-COP é uma realização da Rede de Fundos Comunitários da Amazônia com a parceria da Ação Social Franciscana (SEFRA) e apoiada por organizações como The Tenure Facility, Porticus e Rights and Resources Initiative (RRI).

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